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CONFIRA

Este filme vai emocionar quem já teve que se despedir de alguém querido

Bahia marca presença no Olhar de Cinema com filme íntimo e poderoso

Por João Paulo Barreto*

11/06/2025 - 10:00 h | Atualizada em 11/06/2025 - 11:55
Cena de 'Cais', primeiro longa metragem da cineasta Safira Moreira
Cena de 'Cais', primeiro longa metragem da cineasta Safira Moreira -

Começa hoje, e segue até o dia 19 de junho, na cidade de Curitiba, a edição 2025 do Olhar de Cinema, festival que chega ao seu décimo quarto ano apresentando um leque considerável de novas produções brasileiras e internacionais em mostras competitivas de longas e de curtas metragens, bem como sessões especiais de clássicos da Sétima Arte.

Da Bahia, destaque para Cais, primeiro longa metragem da cineasta Safira Moreira, além da animação Glória & Liberdade, da diretora soteropolitana Letícia Simões e do mais novo trabalho do diretor Leandro Afonso, Ontem Lembrei de Minha Mãe, filme que o realizador baiano também apresentará no festival (leia entrevista exclusiva com o cineasta na terça-feira, 17.

Luto, maternidade e criação: o nascimento de Cais

O A TARDE conversou com a diretora Safira Moreira sobre o processo de criação de Cais, longa-metragem intimista que aborda a recente perda da cineasta, cuja mãe faleceu há pouco tempo, bem como a chegada de seu primeiro filho. “Ando ansiosa para saber como o filme será absorvido pela audiência. Mas Cais é um filme sobre o tempo, os movimentos da vida. Sinto que é um antídoto que criei para mim mesma, para atravessar o luto, compreender de um modo mais amplo a vida, e a ancestralidade que só existe no presente. E agora eu quero poder oferecê-lo às pessoas que estejam lidando com temas difíceis em suas vidas", afirma a cineasta cujos trabalhos anteriores incluem o premiado Travessia, filme de 2017.

Sobre o processo de criação do seu primeiro longa, Safira pontua uma forma de captação experimental das imagens.

Cais tem uma trajetória intuitiva antes de tudo. Éramos uma equipe de quatro adultos e um bebê, atravessando a Bahia e o Maranhão de carro, filmando coisas que eu sonhava, que minha mãe guiava, que tínhamos que encontrar no caminho. Um caminho que tem o rio Paraguaçu como condutor, e o Rio Alegre (no Maranhão) como presente. Foi sendo esculpido no tempo, mesmo
A diretora Safira Moreira
A diretora Safira Moreira | Foto: Divulgação | Juh Almeida

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Dos rios às telas: uma jornada intuitiva e afetiva

O filme ou recentemente pelo Festival Internacional de Cine en Guadalajara, no México, vinha sendo desenvolvido há alguns anos tendo a Mulungu Realizações Culturais, com produção cuidadosa de Flávia Santana, ao lado da Omnirá Filmes e a Giro Planejamento Cultural.

Além do México, Cais, que contou com o patrocínio do Rumos Itaú Cultural e o Fujdo Avon Mulheres no Audiovisual (FAMA) será exibido em julho no BlackStar Film Festival, na Filadélfia (EUA), tendo sido, também, premiado, em 2024, no Sundance Documentary Fund, vinculado ao Sundance Institute.

O projeto vinha sendo desenvolvido há alguns anos. Durante a fase inicial de pré-produção, Safira perdeu sua mãe. Após um período no qual se fazia imprescindível uma pausa na realização do filme, um sentimento de luto, mas também de reflexão e consciência sobre o modo como seria necessário ressignificar a obra, acabou por nortear o trabalho. Outro momento importante da vida de Safira durante essa fase de criação de Cais foi a chegada de seu primeiro filho. O longa ou por mudanças nesse processo que trouxeram à diretora uma construção narrativa que divide emocionalmente com o público essas questões de sua vida pessoal.

“Sinto que Cais é um filme guiado pelo mistério. Era o rio da vida que corria solto diante dos meus olhos, e não havia possibilidade de pensar sobre outra coisa que não a dinâmica da vida-morte-vida. Tem algo sobre o filme que é o fato de eu ter desistido de fazê-lo no momento em que minha mãe adoeceu gravemente. Era impossível alcançar o filme que estava na minha cabeça desde 2018, era impossível alcançar qualquer coisa. E é desse impossível, insondável, incapturável, que Cais renasce", crava Safira Moreira.

A partida de sua mãe tornou necessária esses novos caminhos para o longa.

Um dia, semanas depois da agem de minha mãe, entre o sono e o sonho, eu vi a possibilidade de construir um outro filme, e percorri os rios da Bahia e do Maranhão em busca da alegria de minha mãe, de sua força vital, e fui em busca de mim também, em busca de um solo firme para meu filho e sobrinhos. Não havia um roteiro cinematográfico, só o desejo de encontrar certas paisagens restauradoras, vozes que sempre me transformaram (como Mateus Aleluia e Tiganá Santana). Um desejo de agarrar a vida mesmo, e o cinema como um meio para isso. Foi a certeza de que fiz cinema para realizar Cais, e esse filme me salvar

Silêncios, vozes ancestrais e a força da montagem

Imagem ilustrativa da imagem Este filme vai emocionar quem já teve que se despedir de alguém querido
| Foto: Divulgação

Mateus Aleluia e Tiganá Santana, músicos baianos, enriquecem de modo emocionante o filme com depoimentos sobre ancestralidade, vida, morte e perenidade do conhecimento. Em certo momento, em uma rima visual precisa, vemos a jovem mãe Safira e seu rebento, o pequeno Amani. Logo em seguida, Seu Mateus fala sobre os aspectos citados. Parceira de Safira na montagem do filme, Tenille Bezerra colaborou nessa construção visual e narrativa.

“Eu vejo seu Mateus como uma grande voz de sabedoria, que em poucas palavras consegue decodificar os mistérios da vida. É uma dádiva escutá-lo, assim como Tiganá, Dona Maninha e outras vozes do filme", comemora Safira, e saúda o trabalho de sua montadora nesse intento de conseguir transmitir em imagens tamanha riqueza temática.

“Tenille é madrinha de meu filho, alguém que está muito próxima aos acontecimentos de minha vida, e uma montadora extremamente sensível. A poesia atravessa nossas vidas, e acredito que esse olhar pro mundo, para as águas profundas, para o tempo, é algo que nos conecta. Assim, quando entrego à ela as imagens e intenções de Cais, o que vem desse encontro é muito especial. Ter a coragem de respeitar os silêncios do filme, não ter pressa em contá-lo", explica.

Destacando aspectos culturais e regionais em suas agens pela Bahia e pelo Maranhão, Cais foi gestado durante alguns anos, sendo que, no mesmo período, Safira Moreira realizou curtas metragens como Alágbedé (2021) e Da Pele Prata (2025). São trabalhos que, também, abordam aspectos familiares e culturais da vida pessoal da diretora, filmes que ajudaram na maturação de Cais.

“Eu sinto que Alágbedé e Da Pele Prata são filmes importantes para minha construção artística. Nesses dois filmes, eu olho para o trabalho de um ferreiro, Zé diabo, e um ourives, meu pai, Chico da Prata. São ofícios milenares, que atravessam o tempo, em matérias densas, com uma capacidade vital infinda. Trabalhos que estão espalhados pelo mundo, em terreiros de candomblé, com filhos e filhas de santo”, conta.

“Esses filmes me trouxeram maturidade em compreender a gramática do ofício, quase como se eu me espalhasse neles para absorver melhor o meu trabalho enquanto uma cineasta-artífice. Que tem um certo modo de contar, que persegue certos temas, que apreende determinadas energias no trabalho que realiza”, finaliza a cineasta.

*O jornalista viajou para Curitiba a convite do Festival Olhar de Cinema

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Tags:

Cinema Baiano Cinema Nacional

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